Asimov e o impacto da internet

Esse vídeo circula já há um tempo pela rede mas eu ainda não havia postado por aqui. É parte de uma entrevista que Isaac Asimov concedeu a Bill Moyers em 1988 falando sobre o impacto da tecnologia da internet para a educação e a sociedade, com uma clarividência e extrapolação que só mesmo um escritor de ficção-científica poderia ter.

Quando a literatura francesa encontra a ficção-científica contemporânea

Em A possibilidade de uma ilha, terceiro livro do polêmico Michel Houllebecq, encontramos a mesma ironia ácida, o mesmo desdém com a miséria afetiva da humanidade e uma preocupação aguda em relação ao sexo (e seus momentos beirando a misoginia) e a morte, todos temas já tratados em suas obras anteriores. No entanto, nesse romance Houllebecq não apenas flerta com a Ficção-Científica, o livro é decididamente sci-fi slipstream, adulto, ácido e especulativo trazendo a clonagem e a religiosidade tecnológica como panos de fundo para refletir sobre a condição de humanos e de pós-humanos (que ele chama no livro de neohumanos). Os relatos de vida de Daniel 1 somados aos comentários de Daniel24 e Daniel25 (seus clones e sucessores) fazem a lição de casa da FC de qualidade: extrapolam as questões técnicas sobre a biotecnologia em um presente/futuro próximo pensando em um futuro mais longínquo no qual os humanos ou se tornariam selvagens (ao estilo distópico quase Mad Max) ou neohumanos (aqueles que abdicaram da vida em prol da imortalidade adquirida via clonagem através da conversão à seita elohimita). Senti um tom super new wave e philipkdickiano em vários momentos em que os personagens hesitam entre o que seria realidade, sonho ou delírio e no que tange as questões religiosas da seita elohimita e até mesmo a temática da sexualidade, característica da NW e também de JG Ballard em relação ás gerações anteriores. No entanto, as tintas distópicas e ora antihumanistas ora nostálgicas a respeito da condição humana reequlibram a narrativa dotando a mesma de um tom mais crítico em relação à liberdade da geração 68. Se, em Partículas Elementares, Houllebecq flertou timidamente com possibilidades científico-ficcionais, em A possibilidade de uma ilha ele não deixa dúvidas de que pode ser considerado tanto um escritor mainstream quanto um escritor de FC. Isso é claro, se pensarmos nas tendências de ordem mais existencial e filosófica iniciadas pelas gerações de escritores de FC dos anos 60/70 e na ordem da extrapolação de uma tecnologia (no caso a biotecnologia e seus desdobramentos sobre a vida humana, a cultura e as relações sociais). Está tudo lá, o personagem com tendências a anti-herói, a tecnologia, um acontecimento/evento que aciona a narrativa (no caso a finitude da raça humana e o surgimento de novos seres a partir de um experimento científico e religioso) e uma descrição do devir humano em sua busca por compreensão da vida. Tanto o autor em sua prosa estilo “dedo sarcástico na ferida” quanto os relatos de vida dos personagens não oferece nenhuma salvação ou solução para o futuro, mas traça um panorama refinado da caminhada do homem contemporâneo nietzscheanamente rumo ao seu processo de  transmutação. Agora estou curiosíssima para ler o mais novo romance dele ” La carte et le territoire” lançado ao final de 2010, em que há um personagem que é o próprio Houllebecq conforme indica a resenha do Guardian .

Sci-fi, técnica e a cultura contemporânea em 3 links e uma canção

Aproveitando meu recesso de final de ano – enquanto organizo minha mudança oficial (finalmente!) de Curitiba para Porto Alegre – separei alguns links para postar aqui no blog sobre sci-fi. E o mais interessante é que todos eles estão muito mais conectados com o presente e até o passado do que com o futuro. Para fechar, uma bela canção em clima sci-fi/new weird de um dos favoritos da casa, o duo nórdico Röyksopp.

#Paper Discursos de lo artificial. Blade Runner como representación social de la técnica. Artigo de Claudio Alfaraz publicado na Revista Enl@ce.

# Entrevista – Na entrevista intitulada The reality of Science Fiction, William Gibson fala sobre seu novo romance “Zero History” e sobre o papel da ficção-científica e dos escritores no contexto da cultura atual. Imperdível!

#Ensaio – Em The Blast Shack,  Bruce Sterling – o mais marketeiro e conectado de toda a geração cyberpunk – traça um paralelo entre Julian Assange e o fenômeno cultural/político do Wikileaks e a cultura criptograda “cypherpunk” do início dos anos 90.

Quase tudo que o Röyksopp produz tem um aspecto estranho/pop que remete a uma atmosfera científico-ficcional. Pelo menos é como eu enxergo o discurso deles enquanto produtores de música eletrônica. Em Vision One, temos um vislumbre do que seriam as máquinas inteligentes falando sobre um mundo sem humanos. Infelizmente não há vídeo oficial dessa música:

Remember when we’d hear the distant sound of human life?
A zillion noises whip our eyes that travel through the sky
And one by one, each little sound, has faded away with time,
Allowing changes that we could not have foreseen

Seminário Science ‘n’ Fiction

Reproduzo abaixo o convite do colega Walter Lima (da Casper Libero – SP) para o Seminário Science n´Fiction – A ciência na Ficção Científica, do qual participo no final do mês na Mesa III junto com @fabiofernandes e @rlondero

Seminario Science n fiction
Caros Pesquisadores

O grupo de pesquisa Tecnologia, Comunicação e Cultura de Rede (Teccred), do Programa de Pós-graduação da Cásper Libero, promove o Seminário “Science´n´Fiction”, no dia 30 de outubro, das 8h30 às 18 horas, no auditório Aloysio Biondi, Avenida Paulista, 900, 5.o andar.

O evento aborda as relações entre o gênero e a ciência/tecnologia e contará com a participação de cientistas produtores de ficção científica, pesquisadores e setores sociais envolvidos com a temática. A mesa de abertura contará com a presença de João Zuffo, idealizador do Laboratório de Sistemas Integráveis da USP (LSI/USP) e autor do livro de sci-fi “Flagrantes da Vida no Futuro”.

Resumo da programação:

Mesa I – Ficção Científica e Tecnologia
Como cientistas e pesquisadores tomam ou podem tomar a literatura de ficção científica como inspiração para suas investigações e criações.

Mesa II – Pós-humanos, cibercultura e robótica
Os arquétipos da ficção científica que se baseiam e se desenrolam no mundo real. O que já existe e o que está em desenvolvimento.

Mesa III – O Cyberpunk é agora?
Um debate sobre a vertente da ficção científica e suas correlações com a atualidade.

Mesa IV – Movimentos culturais sci-fi
Como a ficção científica une pessoas e promove movimentos culturais pela cidade de São Paulo. Apresentação de fãs de Steampunk e Star Wars vestidos a caráter.

A programação completa e posts sobre o evento podem ser acessados no http://sciencenfiction.wordpress.com/

Quem desejar acompanhar o evento via twitter basta seguir:
@sciencenfiction

Já os interessados em participar do Seminário, e que não pertencem ao corpo docente e discente da Cásper Líbero, devem enviar nome, rg, telefone e instituição para  eventos@casperlibero.edu.br e aguardem o e-mail confirmando sua participação.

O Seminário também será transmitido ao vivo pela internet. Se você tiver interesse em assisti-lo via web, envie para o mesmo e-mail acima nome, rg, telefone e instituição que representa, comunique seu interesse e aguarde nosso e-mail indicando o link (capacidade limitada de conexões).

abs,
Walter Lima