Charlotte, às vezes

Ontem, dia 21 de abril, feriado de Tiradentes no Brasil, também comemora-se aniversário de Robert Smith – ele mesmo, tio Bob Smith do The Cure – e o nascimento da escritora Charlotte Brontë, 199 anos atrás. Postei as duas efemérides na timeline e a querida Fran Spohr – e o amigo Dartagnan Ferrer logo depois – começou a cogitar se não haveria alguma relação entre a música Charlotte Sometimes (1981) do Cure e a própria irmã Brontë, uma vez que tio Bob é chegado nas referências e intertextos literários.

Em uma brevíssima pesquisada pela wikipedia localizei que Charlotte Sometimes é baseado sim em um livro homônimo escrito por uma autora inglesa chamada Penelope Farmer e que foi lançado em 1969. É um livro infantil (ou seria infanto juvenil?) em que uma garota, chamada Charlotte conta sua chegada em uma escola estilo internato (boarding school) e começa a viajar no tempo para mais de 40 anos antes, onde é confundida com outra garota chamada Clare. Pelo que entendi as duas começam a se comunicar através de bilhetes e de um diário e o livro é contado pelo ponto de vista de Charlotte, que luta pra manter sua identidade e para conseguir ficar no seu próprio tempo. Fiquei curiosíssima para ler a obra, que nunca foi traduzida para o português. De acordo com Robert Smith, as referências ao livro são mais do que diretas e se refletem em trechos da letra como “All the faces/All the voices blur/Change to one face/Change to one voice” sobretudo quando comparadas à primeira sentença do livro: “By bedtime all the faces, the voices, had blurred for Charlotte to one face, one voice.

O videoclipe deixa as ligações entre o livro e a canção ainda mais óbvias e mostra a banda acompanhando a garota Charlotte ao adentrar a Escola e seu encontro quase onírico com a Clare do passado.  Atentem também para o quão jovem todos eles estão e a belezura dos trajes 80s ❤

Além de me aguçar para ler o livro (que colocarei o mais rápido possível na minha já longa lista de próximas leituras) essas relações intertextuais me levaram a outras questões, bem mais pessoais. A primeira delas diz respeito a viagens no tempo, o tipo de narrativa que sempre me fascina haja vista que alguns dos meus livros e filmes favoritos tratam do tema – no último post que escrevi aqui até citei meu clássico Donnie Darko por exemplo.

A-Mulher-do-Viajante-do-TempoA garota do passado desse livro se chama Clare, assim como a personagem de A mulher do viajante no tempo de Audrey Niffenegger (embora a personagem dela seja Claire com i), um dos livros mais lindos que já tive o prazer de ler – e chorar desesperadamente – e que foi o primeiro presente que ganhei do Tarsis Salvatore, com uma dedicatória belíssima que diz muito sobre como estamos construindo e conduzindo nossa própria narrativa – que sim, tem a ver com tempo e com nossa eterna corrida contra ele. O filme é bom, mas não traduz nem 20% da emoção do livro.

Para fechar, se traduzirmos Claire para o português teremos Clara, nome de minha vó materna e que era para ter sido o meu próprio nome. No entanto, meus irmãos muito influenciados por uma telenovela de sucesso na época, “votaram” e pediram para que meu nome fosse Adriana. Já nasci carimbada com o legado da cultura popular rs, não tem jeito.

Essas foram breves digressões que demonstram que nem sempre tudo é tão melancólico quanto parece e que sim, pequenas coincidências nos movem no espaço e no tempo entre 1969, 1981, 1975 e 2013 são muitas as vidas possíveis.

1 comentário

  1. Amanda Querobino Cordeiro · fevereiro 27, 2019

    Adoreiii ❤ amo essa música!

Deixe um comentário