Ser paraninfa da Comdig 2010 é…
Ontem, dia 24/08/13 foi um dia emocionante para mim pois foi a cerimônia de formatura do curso de Comunicação Digital da UNISINOS, na qual fui paraninfa da Turma 2010. Abaixo, transcrevo meu discurso.
PRE-PARA!
Boa noite a todos. Vice-reitor Prof. Dr. Pe. José Ivo Follmann, coordenador do curso professor Daniel Bittencourt, colegas professores homenageados Carolina Rosado, Daniela Horta, Elisa Thomas e Tiago Lopes, formandos da Comdig, pais, mães, irmãos, familiares, amigos, colegas, essa é uma noite especial em que não lutarei contra os clichês, mas tentarei – de forma sintética e breve – me utilizar deles para ressignificá-los nessa data especial para todos nós.
Há 15 anos eu estava tão feliz quanto hoje, em outro lugar, do outro lado da mesa, como formanda e hoje estou aqui ainda mais orgulhosa por ter sido tão carinhosamente escolhida como paraninfa pela turma 2010 de Comunicação Digital da UNISINOS, um curso com o qual eu me identifico e com uma turma pela qual me afeiçoei desde o princípio.
Primeiramente ,quando recebi esse lindo convite fiquei me questionando por que entre tantos colegas, inclusive alguns que ministram um número maior de disciplinas no curso do que eu, fui escolhida? Um dos “chatos” do PPG, aquela gente da pesquisa aqui? O que será que existe em comum entre essa turma e eu enquanto professora? Fazendo uma breve retrospectiva acho que encontrei alguns nós mapeando essa rede.
2010, o ano em que essa turma estreou sua primeira temporada no seriado “vida universitária”, foi um ano muito importante na minha trajetória pessoal, pois foi quando retornei a Porto Alegre após 5 anos morando em outro estado e quando ingressei como professora na UNISINOS e no curso de Comunicação Digital. No entanto, foi apenas no início de 2011 que nos encontramos efetivamente na sala de aula. Foi nesse encontro , na atividade de Imaginários Tecnológicos em que começamos a nos conhecer e a nos reconhecer. O grupo era tímido, apesar de eu perceber que eles prestavam atenção ao conteúdo, o que por si só já era bastante, considerando esse nome aparentemente estranho da disciplina e a complexidade da discussão teórica trazida pela mesma, que tratava da importância da ficção científica nas origens dos fenômenos da cultura e da comunicação digital.
Eram manhãs intensas em que debatíamos sobre robôs, máquinas dominando humanos, ciborgues, hackers, chips implantados na mente, memórias deletadas, cultura dos fãs, entre tantos outros temas instigantes. Um parêntese, viram só pais e mães? Ser comunicador digital não é só passar o dia no Facebook, no Twitter ou dando check in no Four Square e postando fotos de comidas no Instagram, é também, poder falar daquele game que você ficou horas jogando ou daquele filme em que as máquinas entram em guerra com os humanos. Brincadeiras à parte, espero que todos entendam que além de divertido e por vezes estranho, analisar e discutir esses temas é essencial para compreender filosofica e sociologicamente a cultura tecnológica atual e que afeta a todos. Cada um da turma ia contribuindo com seus gostos, suas preferências. A medida em que a disciplina avançava e trocávamos ideias, eu podia conhecer melhor boa parte das carinhas que hoje vejo sorridentes aqui e pelas quais comecei a ter uma grande empatia.
Empatia ainda é uma palavra chave nas relações humanas, mesmo dado todo o contexto da comunicação em rede. Philip K. Dick, autor norte-americano de ficção-científica que pensou – ainda nos anos 50 e 60 – a respeito de uma série de tecnologias e fenômenos que hoje são tão corriqueiros, afirmava que a empatia para com os outros é o ponto que diferencia os seres humanos das máquinas. Eu também espero que essa empatia para com a alteridade – que fez com que eu simpatizasse com a turma e vice-versa – continue guiando a trajetória profissional dos formandos da Comdig 2010 em todas as suas atribuições, mesmo em um cotidiano assoberbado pelo volume de informações, dados, métricas, conteúdos, softwares, com o qual trabalhamos todos os dias. Por que o humano e sua relação com a sociedade e com a comunicação mediada ainda é o ponto central dessa profissão e não a web nela mesma, os tablets, smartphones e quaisquer outros dispositivos e tecnologias que ainda estão em devir.
Não somos jornalistas, não somos publicitários, não somos relações públicas, não somos realizadores audiovisuais, somos o Latino das habilitações da comunicação: tudo junto misturado, remixado e digitalizado, é isso que nos faz ser “gente diferenciada” e não sermos aqueles que “consertam o computador da vizinha” ou “os sobrinhos que mexem no Corel”. Ser Comdig é pensar nos usos e nas mediações tecnológicas e suas extensões para fazer uma sociedade mais interessante e mais democrática, mas também mais divertida e visualmente atraente. Ser Comdig é respeitar a diversidade e compreender que a cultura digital que acontece hoje tem seus antecedentes no que veio antes.
Hoje é definitivamente uma noite para curtir e compartilhar! Estamos aqui em um ritual de passagem cuja função é demarcar um ponto importante na vida desses jovens que, com meu orgulho de madrinha vi crescerem muito ao longo do curso. Alguns deles foram meus orientandos, ou trabalharam comigo na Iniciação Científica, mas com todos continuei mantendo o contato, fossem nos corredores da UNISINOS, ou acompanhando a todos através dos tweets bêbados da madrugada e em postagens e debates no Facebook. Com o passar do tempo percebia a intensidade dos laços sociais se estreitando ao ponto em que se eu visse um zumbi pensava na Morgana, as bandas indies do Bruno e do Migotto, a fanfic do Neymar da Camila, a música eletrônica do Moschetta ou quando fui a Salvador para um congresso e tentei tirar uma foto na frente da casa do Ivetão só pra “trollar” o Ricardo. São muitas as lembranças de cada um e da turma como um todo. E por quê? Por que eu me identifiquei com muitos deles. Por que eles eram teimosos, por que apesar de algumas brigas e discussões eles eram obstinados em suas tentativas e em demonstrar suas visões de mundo, mesmo que para alguns elas parecessem tolas ou inconsequentes. Mas acima de tudo porque eles eram intensos e autênticos e isso, claro, incomoda alguns e gera identificação com outros.
No segundo semestre de 2012 voltamos a nos encontrar em sala de aula em uma atividade em que discutimos o consumo no contexto das redes sociais e pudemos também avançar algumas das questões do “monstrinho” chamado Trabalho de Conclusão de Curso. A turma se mostrou ainda mais à vontade. Guardo as fotos de todos os nossos encontros em que eu as postava no final da aula pra demarcar o tema do dia e as observações de todos sobre os fenômenos emergentes nos sites de redes sociais como o video do Vanessão, o Gangnam Style do Psy, o meu meme do Wake no debate do You Pix e que continua a ser lembrado.
Um novo parêntese aqui Para quem não sabe quem raios é o Vanessão o que é um meme, ou o verbo “trollar” ou desconhece algumas das referências que eu deliberadamente citei, não é porque estou sendo enigmática na linguagem, isso SÓ comprova a posição privilegiada que o comunicador digital tem de compreender e se apropriar dessas linguagens e fenômenos como ferramenta de trabalho.
Voltando a 2012 aquele foi um semestre e tanto! Acho que aprendi muito mais do que ensinei tentando adentrar no mundo de cada um e entendendo como eles enquanto usuários/futuros comunicadores digitais e membros da geração que nasceu praticamente conectada se relaciona e pensa o mundo, a vida e tudo mais e como utilizar aquilo como forma de compreender a sociedade e suas demandas de comunicação . Espero também ter podido contribuir com meu conhecimento arqueológico de como era a internet e a comunicação digital nos anos 90 e de que forma tudo foi se transformando para esse presente, que tenho certeza é só o começo, tanto para essa área relativamente nova e fascinante que é a comunicação digital quanto para a turma que se forma hoje.
Por tudo isso e tantas outras coisas mais que não cabem no papel e nem na formalidade dessa cerimônia fico muito feliz porque a Comdig 2010 me escolheu para ser dinda e conduzi-los nesse episódio decisivo na narrativa da turma, pois essa temporada que aqui se encerra é na verdade um novo começo, uma nova esperança e que eu espero seja de muito sucesso a todos em qualquer uma das subáreas em que eles escolherem, ou mesmo na criação de algo que nem sabemos ainda o que virá a ser. Mesmo com todas as ferramentas, em Comunicação Digital trabalhamos muito mais com a imprevisibilidade, com o efêmero e com o cotidiano, temos mais dúvidas do que certezas, mas se há algo que sinto e que sei é que a Comdig 2010 me representa.
Já sinto Saudades, aquela escrita em caps lock SDDS seguida de um emoticon de coraçãozinho S2.
Boa sorte afilhados, tudo de bom! Se joguem!